terça-feira, 22 de setembro de 2009

VISTAS PANORÂMICAS


















2 comentários:

  1. Lidos Clássicos:
    ‘’Té Santa Clara, além ar…’
    A graça faz-nos ver.
    Seus anjos súbitos, nas antemanhãs.
    Obstinar-se a todos os rumos.
    Investir, olhos postos no longe a vir,
    instantes p’lo caminho.
    As horas de ponta na cidade:
    Mergulhar o humano, corpo ascendendo no pó,
    em direcção ao poente, a clamar escombros.
    Forçoso arrancar a grisu férreo bairros tristes.
    -
    ‘Tiram ouro do nariz os poetas…’
    Atraem para suas janelas ar puro a remotas paragens:
    A plenos pulmões inspiram dos cumes himalaicos.
    Soletram o desconhecido.
    Constrange-os a humana miséria
    e por p’los próprios versos a não verem resolvida.
    Dizem persistentemente paz
    por condoídas estranhíssimas expressões.
    -
    Olhos castanhos, gordo, agreste cara;
    meio bronco nos pés; alta postura;
    aspeito incerto, de alegria ou de tristura;
    nariz dobrado a meio, feroz, torto;
    ânimo vário, mas mais brando agora;
    co’a idade inclinado a mover-se-lhe coração ferido;
    p’los cafés matando os dias;
    a sorrisos gentis nunca insensível, digo, a cândidas musas;
    quase só p’lo confesso suportando padres;
    eis Ochôa: Luas asas lhe deram desta a devaneio.
    -
    ‘Num sonho todo feito de incerteza…’
    Silêncio, luz branda, amenidade, senti essa presença,
    essa leveza, que nos conduzem daqui à infinidade.
    Era a alma das pombas, ou a mesma toalha na mesa, imensidade.
    Céu sem nuvem nem véu nem sombra escura:
    A íntima e afável comunhão,
    contacto imo a imo, amparo na incerteza,
    a escorrer o luminoso tempo.
    O segredo dum sorriso.
    E assim directo achar a mão que na mão ajude a caminhar.
    -
    ‘Minha mesa de café.
    Quero-lhe tanto, a garrida.
    Toda da pedra brunida.
    Que linda e fresca que é…’
    Lá tempero a solidão, com o café do costume.
    Do cigarro, que acendo, não mais se lhe apaga o lume.
    Falhados, todos temos poesia, morte, instantes.
    Boa é a pedra, que esconde, sob ela, o poeta anónimo,
    que escreve e rescreve para o esquecimento da vida.
    E se a patroa se despe?
    E se o cinzeiro se espalha?

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  2. P’la janela rasgada
    réstia arborizada:
    Ver-se transparecer
    o que à face vem florir.
    -
    ‘A vida é feita de nadas,
    grandes serras paradas…’
    Fadigas, cantares, gestos,
    entrega; mãos afagando;
    cismar fascinada solidão;
    manso pastar d’alimárias;
    cuidados desmedidos,
    lidas esquecidas;
    aligeirar o olhar
    até ao ar aberto;
    colher, flor na haste,
    o tempo dado.
    -
    Aves divagam lonjura,
    pairam sobre planura,
    enlevam-me,
    desvanecem-se
    pra lá do ar alado,
    deixando-me saudoso
    do seu voado curso,
    antes sonhado.
    -
    ‘Não era o vulgar brilho da beleza,
    era outra luz, era outra suavidade.’
    Que me não esqueça;
    irmã comigo vá;
    envolva-me inteira;
    acolha-me meiga;
    abrigue-me
    no canto escuro.
    -
    O Horto do Esposo:
    Apeado cavaleiro persegue,
    a branda luz, o lugar donde;
    saudoso ama,
    e, em arroubo, sonha pátria,
    por que, arredado, sempre suspirou.
    Vagamente esmorece;
    alenta-o o odor a amado corpo;
    dia alto acorda flores;
    anela p’la não olvidada garça.
    -
    ‘Sôbolos rios que vão,
    por Babilónia, me achei…’
    Onde, atido à confusão,
    me derivaram
    lágrimas
    por Sião.
    -
    ‘Yo solo vivo
    dentro de la Primavera!
    Los que veis por fuera
    qué sabéis
    de su centro?’
    Se o eclodir solar
    se desvanece,
    na ida claridade
    ainda me fundo.
    -
    ‘O silêncio é tão longo
    que os cães
    enlouquecem nas ruas.
    E as noites
    ficarão imensas.’
    Do Jorge de Lima
    o povoado trecho em eco,
    transcendendo plausíveis glosas,
    nua verdade
    duns uivos,
    uns automóveis,
    por fins do árido Junho.
    -
    ‘Eu cantarei d’amor tão docemente,
    em uns termos em si tão concertados…’
    Os distantes ais rememorados
    não deverão já mais nos ser presentes…
    Olhos, mãos, vozes às claras madrugadas
    lançando-se, repetindo-se, nos darão
    do enlevo moído, saudoso, ausente.
    Oásis indiciam brandos esgares…
    Céu carinha, continuemos demanda.
    Só d’amor feridos figuram-se esquecidos
    pousos a advir; aos quais indiferentes
    vagabundamos tidos na pálida ideia
    da luminosa estada; até a fim movidos
    no livre acto refeitos nos alongamos.
    -
    ‘Maravilha fatal da nossa Idade,
    irrompas, cavaleiro…’
    Verdes ilusões
    à peleja única arrebates.
    Conquiste-se-te o Orbe
    a nova hora havido:
    A ti se obrigue
    a submetido íntimo.
    Cada teu infante
    firmemente motive
    sobre-humana simplesa;
    o Império Quinto já tremeluzindo,
    elucubre português o Oriente da Vida!

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